sábado, 19 de julho de 2008

Regresso

Depois de gravíssima doença, eis de novo O Bengalão. Bem, na realidade, não foi assim tão grave, foi assim uma dor de cotovelo. Vamos até ao fim: a verdade é que O Bengalão é assim um bocadinho maricas.
Mas, depois de uma ausência de um mês e meio, o mundo mudou. O Bengalão acordou hoje e o mundo era outro. Vejamos:
O PSD tem um novo lider. Aquilo passou-se assim: Juntaram-se quatro senhores, nenhum apresentou programa, e lá foi escolhido um, sem que ninguém saiba o que vai fazer. Se O Bengalão fosse membro do PSD, ao menos teria havido debate. Diziam os candidatos, à vez, do alto do palco: Votem em mim! E O Bengalão, cá do fundo: Porquê? Porque sim! E pra quê? Logo se vê! Para além da duvidosa virtude da rima, este diálogo levaria O Bengalão a não votar em nenhum deles. Como O Bengalão não pertence à lustrosa companhia, 36% dos Senhores votaram na Contabilista. E aí está a oposição em toda a sua pujança.
Os Irlandeses decidiram em referendo não ratificar o Tratado de Lisboa. Quer dizer, o Tratado de Lisboa não pode entrar em vigor. O Senhor Presidente da Comissão Europeia veio declarar, com a solenidade de que é capaz, que "não há alternativa ao Tratado de Lisboa". O Bengalão confessa que não percebe. Se não há alternativa, para que se votou? Para que fizeram perder tempo aos Irlandeses e aos nossos Deputados? Imagine-se a quantidade de Guiness que poderia ter sido bebida se os Irlandeses não tivessem tido de ir votar! (O Bengalão abstém-se de tecer comentários ao que fariam os nossos Deputados se não tivessem tido a maçada de ir votar). Porque fazer votar um texto ao qual não há alternativa é o mesmo que um empregado de restaurante ter o topete de nos dizer, depois de espalhar pela mesa as azeitonas, o pão e aquelas pastas infectas que fazem de acepipes nos restaurantes portugueses: temos dois pratos, bife à casa e bife à casa. Vossa Excelência deseja bife à casa ou bife à casa? Ora, a um restaurante destes O Bengalão não voltaria, e a gorjeta havia de ser pequena. Não vê O Bengalão razão para ter com outro empregado seu, O Senhor Presidente da Comissão Europeia, atitude mais conciliante.
A UEFA decidiu uma coisa qualquer, ou não decidiu uma qualquer coisa, O Berngalão não sabe muito bem, mas, seja lá como for, tomou a decisão que tomou baseada no facto de um caso de que O Bengalão não quer saber, mas que decorreu em Portugal, "não ter ainda transitado em julgado". Íngénua UEFA, ignara UEFA! Pois não sabes tu que, em Portugal, a palavra "transitar", quando aposta a "em julgado", pertence ao mesmo universo semântico que transit em sic transit gloria mundi, ou seja ao universo semântico do que morreu, se finou, não existe mais? Não sabes tu que, em Portugal, um caso só transita em julgado depois de ter morrido o Juiz, e o Delegado do Procurador, e todos os acusados, e todas as testemunhas, e solicitadores, e meirinhos, e oficiais de justiça? Ignoras porventura que, em Portugal, um caso só transita em julgado depois de o Pensador Marcello ter dito de sua justiça? Não sabes que um dos casos mais mediáticos dos últimos tempos, que apaixona ainda hoje Portugal inteiro, a morte de Inês de Castro, ainda não transitou em julgado? Ignara UEFA, ingénua UEFA!
Um cidadão, depois de ouvir da boca de um Juiz as palavras que o condenavam à prisão, resolveu recorrer ali mesmo, e pregou duas estaladas na cara da Meritíssima. O Bengalão não pensa que seja à estalada que se põe a Justiça portuguesa na ordem. E acha que o cidadão deve ser exemplarmente condenado, porque o Juiz estava ali em representação d'O Bengalão e tinha assim uma dignidade que não era sua.
O que O Bengalão entende menos é a reacção dos Senhores Magistrados. O que fizeram estes Meritíssimos Senhores? Pois fizeram greve. O Bengalão, que já não entende bem que um Orgão de Soberania tenha Sindicatos para o representar (havia de ser triste a Assembleia Geral do Sindicato dos Presidentes da República e Ofícios Correlativos, com Cavaco Silva a concorrer a todos os cargos consigo próprio. Para não falar do tempo de antena de 23 de Dezembro, 30 segundos de televisão com Cavaco Silva a dizer, a toda a velocidade, Camarada, adere ao teu Sindicato, Unidos Venceremos, contra a ofensiva do Povo, a luta continua!), entende ainda menos a greve de um Orgão de Soberania. As condições de exercício das suas funções eram intoleráveis? Muito provavelmente. Mas o que fizeram contra isso os Meritíssimos Senhores? Recorreram porventura aos bons ofícios do Conselho Superior de Magistratura? Chamaram a atenção do Senhor Presidente da República, garante do "normal funcionamento das instituições democráticas", incluindo os Tribunais? Moveram, contra o Governo uma acção judicial por entave à acção da justiça? Não. Nada disso. Ou seja, os Meritíssimos Senhores não se comportaram como um Orgão de Soberania. Fizeram greve. Como funcionários. Empregadotes. Funcionariozecos. Querem os Merritíssimos Senhores o respeito d'O Bengalão. Pois mereçam-no.

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