Há já muito tempo que O Bengalão não didtribui os seus golpes secos e certeiros. Se pensas, Leitor, que isso se deve a falta de tema ou a preguiça, desengana-te. O Bengalão confessa, com uma candura próxima da desfaçatez, que cultiva com engenho a sublime arte de nada fazer, mãe da Filosofia e da Ciência, ou seja, em palavras que um Licenciado pela Universidade Independente possa entender, O Bengalão é um preguiçosão. (A rima interna é de mau gosto, é certo, mas é propositada. Pode ser que, neste País em que governa o Ingenhêro, floresce a abóbora e o Marcello pensa, a Universidade Independente ressuscite, crie uma Cátedra de Estética para o José Carlos Malato e O Bengalão não gostaria de que lhe faltassem fnos exemplos). O Bengalão é, assim, um preguiçoso. Mas sabe que o verdadeiro preguiçoso trabalha, sob pena de, assoberbado pela reprovação social, não gozar nem metade dos refrigérios em que a preguiça é pródiga. O verdadeiro cultor da sublime arte de nada fazer sabe que não trabalhar dá muito trabalho. Por isso faz tudo o que for necessário para não ter que trabalhar. Por exemplo, escreve blogs. Não foi então por preguiça que O Bengalão pousou a caneta.
Nos últimos tempos, não faltaram lombos a merecer umas bengaladas bem dadas. O problema é que, entre a indignação que pode erguer a bengala (e a caneta) deste escriba, e o humor que O Bengalão acredita (vanitas, vanitatum) que consegue destilar, há um delicado equilíbrio sem o qual não surdem as bengaladas. Sem a necessária indignação, seria gratuito o humor. Sendo a indignação demasiada, o humor parece deslocado. E O Bengalão, como se diz na Beira a propósito de coisas mais terreais e muito mais importantes, não alcança. A mão aproxima-se do papel e nada. Como diria o Ingenhêro se soubesse italiano ou sequer tivesse lido "Os Lusíadas", ao menos o Canto IX, Ingenhêro, ao menos o Canto IX, tra la spica e la man' qual muro è messo.
Vários amigos têm dito a'O Bengalão que é uma vergonha, que devia escrever, que o Mundo não é o mesmo sem a Luz d'O Bengalão (aprende, Leitor, como a Lisonja é viscosa). A tudo O Bengalão foi insensível. Até que uma pessoa a quem O Bengalão não sabe recusar nada, lhe perguntou, mais com os doces olhos do que com a voz dulcíssima, 'então e agora como é que eu sei o que acontece no mundo?' E cá está de novo O Bengalão, quem sabe se para corresponder, com amor e amizade sinceros, a quem lho merece, ou para dar abasto a uma vaidade sabiamente acordada.
Acordado O Bengalão, leu, num canto do Público, a seguinte notícia: Em Viseu, o Ministério da Educação ou alguém por ele mandou fazer um inquérito aos Professores. O inquérito tinha uma pergunta com três respostas possíveis, aquilo a que erradamente se chama escolha múltipla, porque a escolha é só uma, múltiplas são as opções, e destinava-se a determinar por que método os Professores queriam ser avaliados. As opções eram as seguintes:
a) pelo método decidido pelo Ministério da Educação
b) por outro método
c) por método nenhum
Como era de prever, e só não o previu o imbecil que elaborou o inquérito, 100% dos Professores escolheram a opção b). O que fez a misteriosa autoridade? Retirou o inquérito, como as crianças espalham as cartas quando estão a perder ao jogar a bisca com o avô, vamos a outro, sim, avô, que este não valeu?, puxou pelo bestunto, e apresentou-o de novo aos Professores, expurgado da opção b). Simples, não é? O próprio Mugabe não faria melhor.
Esta anecdote, como diria o Ingenhêro se falasse Francês, ilustra um dos males de que sofre a Educação em Portugal. A Lurdinhas propala aos quatro ventos que a sua reforma serve para, valorizando o mérito, melhorar a Escola Pública. Mas o que faz não é valorizar o mérito. Depois da reforma, nenhum Professor, mesmo com quatro ou cinco Óscares (Meu Deus, ao que isto chegou), chegará mais longe na carreira do que chegaria sem ela. O que acontecerá é que muitos Professores não chegarão lá. Ou seja, não se trata de valorizar o mérito, como diz a propaganda oficial, mas de penalizar o demérito. Segue-se que o sistema de avaliação procura determinar defeitos e não salientar virtudes. Padece assim de um erro grave que, nas boas Escolas de formação de Professores, se ensina a evitar logo no primeiro ano: é uma avaliação não formativa. O Bengalão sabe que muitos Professores, como muitos Médicos, como muitos Juízes, como muitos Canalizadores, não querem ser avaliados. Uma parte da culpa disso é de quem, confortavelmente instalado nas suas certezas científicas, deixou que proliferassem como fungos Escolas Superiores de Educação que nem são Escolas, muito menos Superiores e que julgam ensinar Educação porque todos os caloiros aprendem, a custo, a dizer bom dia ao Senhor Arnaldo, que corajosamente guarda o portão da entrada.
Se a Lurdinhas quisesse, como diz, compensar o mérito, em vez de destruir a carreira dos Professores, criava uma nova categoria salarial para os Professores que os seus pares considerassem merecedores de um prémio de excelência, limitando obviamente o número daqueles que a ele poderiam aceder. Se a Lurdinhas quisesse, como diz, compensar o mérito, encerrava uma boa parte das "escolas" que formam "professores" (arrostando, corajosa, com a ira dos autarcas respectivos). Se a Lurdinhas quisesse, como diz, compensar o mérito, pagava decentemente aos Professores, e pagava um suplemento aos membros dos Conselhos Pedagógico e Directivo. Se a Lurdinhas quisesse como diz, compensar o mérito, escolhia, entre os Professores que mais se tivessem distinguido no exercício de funções de direcção nas suas Escolas, os Directores Regionais de Educação, em vez de nomear para esses cargos o autor das Inquirições Viseenses, ou a Comissária Política que dirige a DREN.
Há muitos anos, no Uganda, junto à nascente do Nilo, um grupo de europeus olhava com espanto aquela massa enorme de água, que, de tão forte, parece que conseguirá chegar ao Egipto, sob o olhar paciente e digno de três homens impávidos. Daí a aproximarmo-nos todos deles foi um passo. Ninguém sabia o que dizer até que o que estava do lado direito disse, apontando para o do meio: "O Chefe, se quisesse, atravessava o lago (É o Lago Vitória, Ingenhêro, onde voa a águia e o Benfica mete água) a pé". Como é inevitável, um de nós, jovem e ingénuo, perguntou: "Então por que não atravessa?" O nosso interlocutor murmurou umas palavras ao ouvido do Chefe, que lhe respondeu no mesmo tom. E disse-nos: "O Chefe, se quisesse, atravessava o lago a pé. Mas o Chefe não quer."
Se tivesse a dignidade deste Chefe, a Lurdinhas seria como ele. A Lurdinhas, se quisesse, podia valorizar o mérito. Mas a Lurdinhas não quer.
Nos últimos tempos, não faltaram lombos a merecer umas bengaladas bem dadas. O problema é que, entre a indignação que pode erguer a bengala (e a caneta) deste escriba, e o humor que O Bengalão acredita (vanitas, vanitatum) que consegue destilar, há um delicado equilíbrio sem o qual não surdem as bengaladas. Sem a necessária indignação, seria gratuito o humor. Sendo a indignação demasiada, o humor parece deslocado. E O Bengalão, como se diz na Beira a propósito de coisas mais terreais e muito mais importantes, não alcança. A mão aproxima-se do papel e nada. Como diria o Ingenhêro se soubesse italiano ou sequer tivesse lido "Os Lusíadas", ao menos o Canto IX, Ingenhêro, ao menos o Canto IX, tra la spica e la man' qual muro è messo.
Vários amigos têm dito a'O Bengalão que é uma vergonha, que devia escrever, que o Mundo não é o mesmo sem a Luz d'O Bengalão (aprende, Leitor, como a Lisonja é viscosa). A tudo O Bengalão foi insensível. Até que uma pessoa a quem O Bengalão não sabe recusar nada, lhe perguntou, mais com os doces olhos do que com a voz dulcíssima, 'então e agora como é que eu sei o que acontece no mundo?' E cá está de novo O Bengalão, quem sabe se para corresponder, com amor e amizade sinceros, a quem lho merece, ou para dar abasto a uma vaidade sabiamente acordada.
Acordado O Bengalão, leu, num canto do Público, a seguinte notícia: Em Viseu, o Ministério da Educação ou alguém por ele mandou fazer um inquérito aos Professores. O inquérito tinha uma pergunta com três respostas possíveis, aquilo a que erradamente se chama escolha múltipla, porque a escolha é só uma, múltiplas são as opções, e destinava-se a determinar por que método os Professores queriam ser avaliados. As opções eram as seguintes:
a) pelo método decidido pelo Ministério da Educação
b) por outro método
c) por método nenhum
Como era de prever, e só não o previu o imbecil que elaborou o inquérito, 100% dos Professores escolheram a opção b). O que fez a misteriosa autoridade? Retirou o inquérito, como as crianças espalham as cartas quando estão a perder ao jogar a bisca com o avô, vamos a outro, sim, avô, que este não valeu?, puxou pelo bestunto, e apresentou-o de novo aos Professores, expurgado da opção b). Simples, não é? O próprio Mugabe não faria melhor.
Esta anecdote, como diria o Ingenhêro se falasse Francês, ilustra um dos males de que sofre a Educação em Portugal. A Lurdinhas propala aos quatro ventos que a sua reforma serve para, valorizando o mérito, melhorar a Escola Pública. Mas o que faz não é valorizar o mérito. Depois da reforma, nenhum Professor, mesmo com quatro ou cinco Óscares (Meu Deus, ao que isto chegou), chegará mais longe na carreira do que chegaria sem ela. O que acontecerá é que muitos Professores não chegarão lá. Ou seja, não se trata de valorizar o mérito, como diz a propaganda oficial, mas de penalizar o demérito. Segue-se que o sistema de avaliação procura determinar defeitos e não salientar virtudes. Padece assim de um erro grave que, nas boas Escolas de formação de Professores, se ensina a evitar logo no primeiro ano: é uma avaliação não formativa. O Bengalão sabe que muitos Professores, como muitos Médicos, como muitos Juízes, como muitos Canalizadores, não querem ser avaliados. Uma parte da culpa disso é de quem, confortavelmente instalado nas suas certezas científicas, deixou que proliferassem como fungos Escolas Superiores de Educação que nem são Escolas, muito menos Superiores e que julgam ensinar Educação porque todos os caloiros aprendem, a custo, a dizer bom dia ao Senhor Arnaldo, que corajosamente guarda o portão da entrada.
Se a Lurdinhas quisesse, como diz, compensar o mérito, em vez de destruir a carreira dos Professores, criava uma nova categoria salarial para os Professores que os seus pares considerassem merecedores de um prémio de excelência, limitando obviamente o número daqueles que a ele poderiam aceder. Se a Lurdinhas quisesse, como diz, compensar o mérito, encerrava uma boa parte das "escolas" que formam "professores" (arrostando, corajosa, com a ira dos autarcas respectivos). Se a Lurdinhas quisesse, como diz, compensar o mérito, pagava decentemente aos Professores, e pagava um suplemento aos membros dos Conselhos Pedagógico e Directivo. Se a Lurdinhas quisesse como diz, compensar o mérito, escolhia, entre os Professores que mais se tivessem distinguido no exercício de funções de direcção nas suas Escolas, os Directores Regionais de Educação, em vez de nomear para esses cargos o autor das Inquirições Viseenses, ou a Comissária Política que dirige a DREN.
Há muitos anos, no Uganda, junto à nascente do Nilo, um grupo de europeus olhava com espanto aquela massa enorme de água, que, de tão forte, parece que conseguirá chegar ao Egipto, sob o olhar paciente e digno de três homens impávidos. Daí a aproximarmo-nos todos deles foi um passo. Ninguém sabia o que dizer até que o que estava do lado direito disse, apontando para o do meio: "O Chefe, se quisesse, atravessava o lago (É o Lago Vitória, Ingenhêro, onde voa a águia e o Benfica mete água) a pé". Como é inevitável, um de nós, jovem e ingénuo, perguntou: "Então por que não atravessa?" O nosso interlocutor murmurou umas palavras ao ouvido do Chefe, que lhe respondeu no mesmo tom. E disse-nos: "O Chefe, se quisesse, atravessava o lago a pé. Mas o Chefe não quer."
Se tivesse a dignidade deste Chefe, a Lurdinhas seria como ele. A Lurdinhas, se quisesse, podia valorizar o mérito. Mas a Lurdinhas não quer.
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