terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Demissão

Apesar do que disse na sua última mensagem, não se pense que o Bengalão ficou muito contente com a demissão do Ministro da Saúde (e já agora, com a da Ministra da Cultura, que também tinha que se lhe dissesse. O Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais pediu para sair. Deve ser homem de bem). E não ficou muito contente porque o problema não é só o Ministro. O problema é o projecto de quem nos governa. Quando o Bengalão diz "quem nos governa", não se refere a este Governo, ou ao partido que o sustenta. Não. O Bengalão ainda não viu diferenças entre o projecto de sociedade do Ingenhêro, o do Luís Filipe e o do Paulinho. (Veja-se o que há tempos se disse sobre o Arco da Governação). O Bengalão refere-se assim a todos eles, mais a quem neles manda. O Bengalão já está a ver daqui quem, de dedo em riste, o acuse: mais um comuna, com a cassette da mudança de política. Não é verdade. O Bengalão é um democrata convicto. O Bengalão acredita que projectos diferentes de sociedade devem ter a oportunidade de governar em alternância, para se ir atingindo, lentamente, equilíbrios diferentes que acabam por mudar os próprios projectos. Democracia é isto. Quem não acredita nisto são eles, que tudo fazem para impedir a alternância. Para que a Democracia funcione, várias coisas são necessárias. Entre estas, está uma luta sem quartel contra a corrupção. Mas a corrupção não é apenas a a sua forma mais brutal, em que um pato bravo paga a um mafarrico qualquer para este lhe dar um jeito. Não. Há formas mais subtis. Um exemplo, à laia de fábula:
Era uma vez dois rapazes, quinze anos, alunos do mesmo Liceu. Um deles, aluno extraordinário, gostava de estudar. O outro estroina, dedicava-se mais à militância na juventude do Partido de que o pai era deputado. (Vês, Leitor, que podes pôr aqui o nome de vários partidos? E acredita que é com mágoa que o Bengalão o diz). No fim do nono ano, o primeiro seguiu naturalmente os seus estudos. O outro foi para um Colégio privado de um amigo do pai onde, como por milagre (e para provar que o ensino privado é muito melhor que o público), começou a ter boas notas. No fim do ensino secundário, entrou na Universidade Independente, onde o papá era administrador e a mamã professora. O seu colega, brilhante como sempre, entrou no Instituto Superior Técnico, onde, alguns anos depois, se licenciou com 19 valores. O militante lá conseguiu terminar um curso com 10.
Achas, Leitor, que o Bengalão exagera, que as coisas não são bem assim? Claro que não são exactamente assim. O Bengalão tem consciência de que isto é uma caricatura. Mas, Leitor, confessa, não reconheces o retrato? Achas que é apenas imaginação do Bengalão?
Continuemos, portanto. O que aconteceu aos nossos meninos? Pois o que já se sabe. O filho do Senhor Deputado foi contratado para o Gabinete de um dos Ministros amigos, com um salário de 3500€ mensais, com descontos para a pensão e para o fundo de dsemprego, porque, não é, nunca se sabe o dia de amanhã. O outro, que gostava mesmo de estudar, resolveu fazer um doutoramento, concorrendo à Bolsa mais prestigiosa do país, a da FCT. Entre muitos candidatos, e porque era mesmo muito bom, ganhou. O Estado dá-lhe menos de 1000 € por mês, sem descontar para uma pensão ou para o fundo de desemprego. Quando terminar o doutoramento, se não arranjar emprego, nem subsídio tem. Se arranjar, começa finalmente, aos trinta e tal anos, a descontar para a sua pensão de reforma.
Entretanto, o Ingenhêro continua a dizer estas duas coisas espantosas: Primeiro, que é necessário descontar mais anos para a reforma, segundo, que o futuro do país é a sociedade do conhecimento. E os nossos melhores jovens olham-no com desprezo e vão procurar, noutro país, um ambiente menos fétido.
Corrupção é isto. Por muito legal que seja. Por muito que se façam campanhas a mostrar que Portugal é um país moderno e civilizado. Não é. É um país corrupto. Todos conhecemos os culpados. Somos nós.

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