domingo, 27 de janeiro de 2008

Isto anda tudo ligado

Pois é. Isto anda tudo ligado. O Bengalão queria falar sobre o tabaco e a ASAE. Teve de falar noutra coisa que, no fim de tudo, o conduziu aos LEGOS, que era também uma boa maneira de falar da ASAE e do tabaco. Estava a pensar como havia de juntar as pontas quando, ligado o rádio, ouviu o Botas (não o Velho, mas o novo Botas) dizer que a ASAE é como a PIDE. O Bengalão acha normal. O Botas sabe lá o que é a PIDE... O Botas, que nos habituou a uma elegância que só tem paralelo com a sua inteligência, estava apenas a fazer o que melhor sabe: produzir inanidades.

É verdade que algumas actuações da ASAE nos deixam boquiabertos. Quando a ASAE encerra a Ginjinha, é natural que o Bengalão se interrogue sobre a sensatez da decisão. Mas o que nunca ninguém contestou foi a legalidade da decisão. Ora a ASAE é apenas uma Polícia. Cumpre-lhe aplicar a Lei, e não fazê-la. Se a ASAE, no cumprimento da Lei, faz algo que nos parece errado, a culpa não é da ASAE, é da Lei. E quem são os primeiros a criticá-la? Pois os LEGOS. Os que fizeram a Lei. Quer dizer, provando a actuação da ASAE que a Lei está mal feita e que quem a fez é incompetente, os LEGOS, em vez de pedirem desculpa da estultícia e de se atirarem ao estudo e ao trabalho, corados e de orelhas murchas, acusam a ASAE de ter chamado a atenção para a incapacidade de Suas Insolências.

Queres um exemplo, caro Leitor? Os LEGOS, na sua Suficiência fizeram uma Lei contra o uso do tabaco. Ao contrário de muitos comentadores apaixonados, o Bengalão não é afectado pela Lei. Não fuma, raramente vai a restaurantes onde se pudesse fumar, não vai a discotecas ou a casinos. Mas fizeram-na. Tão bem ou tão mal, que uns dias depois teve o Director-Geral da Saúde de vir prestar esclarecimentos sobre a correcta interpretação da Lei, quer dizer, mostrar que a Lei tinha sido mal feita.
A Lei entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2008. E logo foi fotografado o Inspector-Geral a fumar no Casino de Lisboa. A partir daqui, a espiral da criatividade nacional mostrou-se no seu melhor. O Bengalão explica, por ordem e com calma.

ACTO I
O Senhor Inspector-Geral, que fora apanhado a fumar num local público fechado e que não tinha cumprido o seu dever, multando o Casino por não ter os cartazes a dizer Proibido Fumar, veio declarar que a Lei se não aplicava nos Casinos. Poucas vezes a criatividade nacional se mostrou tão verdejante.
ACTO II
O Representante dos Casinos de Portugal aproveitou a finta e apressou-se a daclarar que os Casinos tinham de ter um tratamento especial, porque eram essenciais para o Turismo. O Bengalão admite que é muito viajado e que encontrou na sua vida muitos turistas que lhe deram as mais variadas razões para virem ou terem vindo a Portugal. Conheceu mesmo um turista que queria vir a Portugal porque sempre simpatizara com espanhois. Também conheceu muitos turistas que queriam ir a casinos. Mas os que querem ir a casinos querem ir a Las Vegas, Mónaco, Macau ou até, nalguns casos, ao Botswana. Agora, turistas que quisessem vir a Portugal pelos casinos, nunca encontrou nenhum. A não ser um Napolitano, visceralmente habituado ao caos da sua cidade, achando-a demasiado organizada desde que Prodi, o Bolonhês, tinha subido ao poder, que queria vir a Portugal, ver "il casino, il vero".
ACTO III
Os LEGOS, que são, lembremo-lo, autores da Lei, protestaram e obrigaram o Senhor Inspector-Geral a ir à Assembleia meter os pés pelas mãos.
O que os LEGOS não explicaram a ninguém foi o seguinte: Ao incluirem na Lei um artigo que dizia "Esta Lei entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 2008", esperavam estes monumentos da inteligência que todos os proprietários de estabelecimentos em que as pessoas comemoravam o fim de ano fossem, ao bater da meia-noite, instalar os cartazes de proibição e interromper o cantor que cantava "Você diz que a cachaça é água" para dizerem com voz rouca ao microfone: "Minhas Senhoras e meus Senhores, a partir deste segundo é proibido fumar"? Era isto que esperavam Suas Excelências? Oh Zoilos!
Qualquer bedel da Universidade Independente era capaz de lhes dizer: Oh Senhores Engenheiros, se calhar é melhor a Lei entrar em vigor no dia 2, ou até no dia 3.
Oh Botas, estás a ver por que é irrelevante o que tu dizes da ASAE? É que tu pertences àquele grupo, ao tal que, tendo parido aquela Lei, acusa quem a faz aplicar de todos os males.

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