terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Empregos

Na sua entrevista à SIC, o Ingenhêro declarou que já tinha criado mais de metade dos empregos que prometera criar nesta legislatura. Entendamo-nos. O Ingenhêro não se refere a um saldo positivo de empregos, quer dizer, à diferença entre o número de empregos perdidos e o número de empregos criados. Refere-se só a estes. Quer dizer, considera-se responsável pelos novos empregos, mas acha também que os empregos perdidos foram vítimas da conjuntura internacional.
A este propósito, oferece-se ao Bengalão contar uma fábula. Conheces, caro Leitor, aquela máxima chinesa (palavra de honra que o Bengalão esteve para escrever "aquele anexim chim", mas não teve coragem) que diz que quando alguém aponta para a Lua, o sábio olha para a Lua, mas o néscio olha para o dedo? Pois também aqui é de dedos e de Lua que se trata.
Havia, nas negregadas alturas da Serra da Estrela, um homem como os outros, não muito inteligente, mas ambicioso, não muito bonito, mas fotogénico, não especialmente dotado de ideias, mas capaz de as embrulhar em palavras que outros homens gostavam de ouvir. Por razões que demoraria muito tempo a explicar, vieram-no buscar um dia para o levarem para o Palácio da Capital onde se reuniam outros homens como ele, sem muitas ideias, mas ambiciosos que, acometidos de uma estranhíssima doença, estavam convencidos de que eram eles que governavam o país. Faziam muitas reuniões findas as quais aprovavam uns documentos que lhes tinham posto nas pastas, todos impantes e muito convencidos de que tinham sido eles que os escreveram. Apontavam para os papeis e diziam uns para os outros: "Vê esta Lei? Fui eu que fiz!" A esta doença chama-se doença do dedinho, porque, nas suas formas mais graves, os coitados que dela sofrem chegam junto de homens, uns deles sábios, outros néscios, apontam para a Lua e, sem sequer darem tempo aos sábios de olharem para a Lua e aos néscios de olharem para o dedo, dizem, para espanto dos povos: "Vêem a Lua, além? Fui eu que a fiz."
Por aqui fica a fábula, que para bom entendedor nem meia palavra é precisa. O Ingenhêro está doente, coitado. Aponta para um projecto e sai-lhe logo: "Fui eu que o fiz!" Anda um desgraçado em A-dos-Cunhados um ano para obter apoio bancário para a sua nova empresa de janelas de alumínio, lá consegue aos trancos e barrancos, cria 5 postos de trabalho e logo, detrás de um pinheiro daqueles que há sempre junto das fábricas de janelas de alumínio, surge, de dedo em riste, o Ingenhêro, dizendo: "Vêem aquele posto de trabalho? Fui eu que o criei!"
O Bengalão não comenta o resto da entrevista. Não está com paciência para comentar propaganda.

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