quinta-feira, 22 de maio de 2008

Torcato Sepúlveda

Quando O Bengalão fez hoje aquilo que faz todas as manhãs, abrir o computador e ler O Público, foi brutalmente agredido pela notícia da morte de Torcato Sepúlveda. Outros farão o elogio do Jornalista exemplar, do Crítico agudo, do Professor de muitos dos que hoje escrevem sobre cultura. O Bengalão prefere guardar os olhos doces do amigo que conheceu na Faculdade, do Homem de coragem sempre pronto para enfrentar a polícia nos anos loucos das crises académicas de Coimbra, da independência de quem, mesmo ali, sempre se negou a seguir com a maioria. O Bengalão recordará a irreverência de Torcato, os excessos de Torcato, os cabelos compridos de Torcato, a sua enorme, imensa generosidade, o lume que o habitava, o seu sentido de humor acre como o vinagre balsâmico de Modena. O Bengalão levará consigo a inquietação do Companheiro a quem, segundo dizia, até os periscópios oprimiam. Hoje, todos perdemos muito. Não há em Portugal muitos homens livres. Torcato era (é) um deles. Encontrar-me-ei contigo, Companheiro, no poço fundo da minha memória, onde começam a viver muitos dos que amo.

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