sexta-feira, 9 de maio de 2008

Três notícias

O Bengalão esteve ausente durante algum tempo e, ao regressar a casa e pôr a escrita em dia, deparou-se com três notícias significativas:
O músico Bob Geldof afirmou que Angola era dirigida por criminosos. O Engenheiro Mira Amaral veio a terreiro dizer que esta afirmação era um disparate. Ora quem é o músico Bob Geldof? É um cantor de que O Bengalão não gosta por aí além, mas que se tem distinguido, nos últimos anos, pelo apoio que dá a causas humanitárias, um pouco por todo o mundo. O Engenheiro Mira Amaral quem é? É um ex-ministro que se distinguiu, há uns anos, por começar a receber da Caixa Geral de Depósitos, ou seja, de nós todos, uma reforma de 18000€ por mês, por lá ter trabalhado 2 anos, e que se veio somar à pensão que já lhe pagávamos por ele ter sido ministro e vagamente deputado. Na altura da concessão das pensões o Engenheiro Mira Amaral não sofria de doença crónica e ainda não tinha 65 anos. Podia, portanto, trabalhar. O Bengalão confessa que, se mais argumentos não houvesse, teria tendência a acreditar mais na palavra de Geldof, que aliás também ganha bem, com a pequeníssima diferença de que não é O Bengalão que lhe paga.
Mas há mais argumentos. Todas as organizações internacionais são unânimes em afirmar que o regime angolano é dos mais corruptos do mundo. Angola é o país africano com um crescimento mais alto (cerca de 15%) e, no entanto, todos os indicadores mostram que a saúde, a educação, a habitação, as infrastruturas mais necessárias à vida do ser humano normal, a água, os esgotos, estão ao nível dos mais pobres de África. A família Eduardo dos Santos acumulou, ao longo dos anos, uma fortuna incalculável que é hoje gerida por uma das filhas do presidente, cuja única qualidade na vida económica é ser filha de quem é. É esta gente que resolveu abrir um banco em Portugal. Todos os ditadores corruptos africanos têm feito o mesmo: apropriam-se do dinheiro do país e do que vão extorquindo às empresas estrangeiras que com eles negoceiam e colocam-no em segurança no estrangeiro, não vá o diabo tecê-las. Por outro lado, é mais barato, para canalizar o dinheiro da corrupção, dispôr de um banco no estrangeiro do que ter de pagar a intermediários. O principal accionista do novo banco é a moçoila de que atrás se falou. Não sendo capaz de gerir o banco, ou tendo mais que fazer, contratou um criado para o fazer por ela. O criado chama-se Engenheiro Mira Amaral e, como muitas vezes fazem os criados atentos, veneradores e obrigados, defendeu a patroa e, sejamos sérios, também o dinheirinho que ela lhe paga, que se acrescenta ao que nós lhe pagamos. A resposta do Engenheiro Mira Amaral não é uma resposta: é o bolsar de quem, com a carteira cheia e a ética flexível, não quer perder nenhum dos seus privilégios. Angola é dirigida por criminosos. Mas os criminosos têm cúmplices. Muitos deles na Europa, alguns em Portugal.
Entrevistado por um jornal português, o inefável António Borges, disse que o subprime é uma das maiores criações financeiras dos últimos anos. Sabes o que é o subprime, Leitor? Não é muito complicado. Os bancos americanos, que, como todos os bancos, precisam do nosso dinheiro como de pão para a boca, começaram a emprestar dinheiro para comprar casa própria, aceitando como garantia, não o valor actual da casa, mas o valor que ela iria ter no futuro. Quer dizer, o banco apostava na subida contínua do preço das casas e, além disso, apropriava-se de uma pequena margem de manobra que é fundamental para quem pede dinheiro emprestado: a possibilidade de ir subindo na vida, enquanto que o empréstimo, em termos reais, não sobe, e corresponde, assim, a uma parte proporcionalmente cada vez menor do rendimento da família. É evidente que o risco, para o banco era maior, mas os bancos resolveram isso de uma maneira, como direi, habilidosa: venderam uma parte das dívidas, por vezes muito bem escondidas por detrás de pacotes de investimento atraentes, partilhando assim o risco assumido com todo o mundo. Conheces, Leitor, o resultado disto: o mercado da habitação entrou em recessão e o sistema financeiro do mundo entrou em crise. Todos estamos a pagar isso. Mas os grandes bancos e os gestores de investimentos ganharam muito com a manobra. Houve dinheiro teu, Leitor, que nunca compraste um andar em Lisbon (no Dakota do Norte, EUA), nem em Faro (na Carolina do Norte, EUA), e nunca pediste dinheiro a um banco americano, que foi parar ao bolso do Senhor António Borges, que vive desses expedientes. Não surpreende, pois, que o Senhor António Borges considere os subprimes uma maravilhosa invenção. O que se percebe menos é que muitos o considerem como a última esperança do PSD. Ou julgarão que, se António Borges fosse Primeiro Ministro, isto ia ser um bodo aos pobres em subprimes?
O Senhor Vale de Azevedo é um burlão que foi condenado em vários tribunais, por crimes variados. Foi recorrendo até ao Supremo Tribunal de Justiça que, agora, o julgou definitivamente culpado no primeiro desses processos. O burlão foi condenado a sete anos de cadeia. Não os cumprirá, no entanto. Fugiu do país a tempo. Fugiu do país porque o Legislador que nos coube em sorte (se assim se pode dizer) organizou a Justiça de maneira que quem para isso tiver dinheiro pode protelar a decisão final por muitos anos, durante os quais, apesar de ter sido condenado por várias instâncias, é presumido inocente. Fugiu do país porque os Doutos e Meritíssimos Juízes não terão visto que havia um perigo real de fuga e, portanto não houveram po bem aplicar-lhe medidas de coacção. Fugiu do país porque a polícia não considerou necessário vigiá-lo discretamente. Não será preso, portanto. Nem os esbulhados por ele se verão ressarcidos. Se fosse só o Senhor Vale de Azevedo, ainda vá. Mas não é. E a Opinião Pública portuguesa resume a situação da seguinte maneira: quem tem dinheiro pode fazer o que quiser, sem ter de se importar com a Justiça. E isso é algo que põe em causa todo o desenvolvimento do país, mesmo com planos tecnológicos, muito investimento estrangeiro, e muita requalificação da mão de obra portuguesa. Mesmo que o Ingenhêro deixe de fumar.

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