quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Remodelação

O Bengalão tem pouco a dizer sobre a remodelação. É claro que as pessoas contam. E não é a mesma coisa ter pela frente um Dominicano como o Sr. Correia de Campos ou um Jesuíta como o Sr. Bagão Félix. Mas o que é importante é a política que o Ingenhêro lhes manda fazer.
Um dos actos mais controversos da anterior Ministra da Cultura foi a entrega da sala de exposições mais prestigiada do país a um coleccionador privado, comprometendo-se ainda, em nosso nome, a comprar-lhe a colecção daqui a uns anos.
O Estado Português não tem um único grande museu nacional de arte contemporânea. A política do Estado Português para a Arte contemporânea centra-se, assim, na colecção Berardo.
Uma pausa, para sermos claros. O Bengalão não defende que o Estado tenha uma política para a Arte contemporânea. Se o Bengalão pudesse, passava as suas tardes em Serralves, que não é estatal e onde o Bengalão viu algumas das mais bem organizadas exposições da sua vida. Não. O Bengalão conhece países em que o Estado intervem, fortemente, na produção artística contemporânea. O Bengalão entende que isto tem vantagens: mais protegidos, os artistas podem dedicar-se ao que melhor sabem fazer, obras de arte; e entende que isto tem inconvenientes: em última análise, é o Estado, e não os artistas, que decide os caminhos da Arte. O Bengalão conhece também países em que o Estado não se mete nessas coisas. Os artistas têm aí toda a liberdade e nenhuma protecção. O Bengalão acha, portanto, que qualquer das posições é defensável. O Bengalão tem a sua opinião, olha quem, mas ela não vem aqui para o caso.
O Bengalão teria compreendido que a Senhora Ministra da Cultura tivesse declarado ao país: O Estado não tem política para a Arte contemporânea. Os Senhores Pintores que pintem, os Senhores Escultores que esculpam, os Senhores Fotógrafos que fotografem. O Estado, o mais que fará, se tiver tempo e estiver para aí virado, é ir à vernissage.
Teria o Bengalão igualmente compreendido que a Senhora Ministra tivesse informado os cidadãos: A política do Estado para a Arte contemporânea é a seguinte: O Estado gosta muito de verde. Portanto, Senhores Pintores, aos pincéis, Senhores Escultores, aos escopros, Senhores Fotógrafos, às objectivas. O Estado cá estará para vos pagar. Mas de verde.
O que o Bengalão não consegue compreender é que a Senhora Ministra tenha dito: O Estado tem uma política para a Arte contemporânea. É, ponto a ponto, linha a linha, coincidente com o gosto e com os interesses financeiros do Sr. Comendador Berardo.
Isto, o Bengalão não entende. Por isso o deixa preocupado que, para substituir a Senhora Ministra, tenha sido escolhido um jurista, administrador da colecção Berardo.

1 comentário:

Isabel Magalhães disse...

Vim dos caminhos da blogosfera e gostei muito de ter passado por cá.

'Portugal no seu melhor' não é apenas as fotos com erros de ortografia e os posts no meio das estradas que circulam na net em incontáveis fwds. É também o que acaba de relatar. É também a triste realidade do dia a dia deste país cada vez mais ao abandono, ou entregue apenas a uns quantos.

Abraço

I.