segunda-feira, 24 de março de 2008

Casamento e Impostos

O Bengalão leu no Público. Não foi um sonho, nem foi um filme do Gato Fedorento no You Tube. O Bengalão leu no Público. Estava lá preto no branco. O fisco anda a enviar cartas ameaçadoras a contribuintes recém casados a fazer perguntas indiscretas. Quantos convidados, quanto custou o vestido de noiva, quanto custou o almoço, se calhar que prendas deu cada um e onde as comprou. E ainda se houve outros eventos no mesmo dia no mesmo local. O Bengalão aproveita para chamar a atenção das suas amigas feministas para o facto de o fisco estar muito interessado no preço do vestido da noiva, mas ignorar por completo o preço do smoking do noivo. O machismo revela-se nos actos mais banais. A eles, companheiras!
O Bengalão leu e ouviu muitos comentários indignados a esta carta do fisco. Que o segredo, que a intimidade, que qualquer dia vai a ASAE verificar se os noivos, no quarto, findo o banquete, fizeram o que tinham a fazer nas regras da arte.
Ora O Bengalão pensa que estes comentadores dão, todos eles, provas de enorme ingenuidade. O Bengalão explica. Perguntar a alguém que prenda uma pessoa lhe deu, onde foi comprada e quanto custou, ou perguntar aos noivos quanto custou e como foi pago um banquete que a boa tradição portuguesa manda que os pais paguem, e não os noivos, perguntar a uma noiva quanto custou o vestido que a tornou na mulher mais bonita do mundo, só pode resultar ou de uma ignorância e insensibilidade descomunais, mesmo para os altíssimos parâmetros do fisco, ou de um objectivo bem definido e oculto. Perguntar a uns noivos se houve, no mesmo dia e no mesmo local outros eventos, como se os noivos estivessem para pensar noutros eventos no dia em que se casam, só se compreende ou de alguém extremamente estúpido, ou de alguém com um objectivo oculto e bem definido.
O Bengalão, este cínico coriáceo, sabe que, de duas explicações aparentemente possíveis, a mais provável é a mais simples. Pensa, assim, que a explicação mais provável é que, por detrás desta carta do fisco esteja, portanto, um objectivo oculto e bem definido. Ninguém acredita que um responsável, mesmo licenciado pela Universidade Independente, resolva fazer estas perguntas e estas ameaças para obter informações. O objectivo das cartinhas deve ser, portanto, outro.
Mas qual pode ser o objectivo do fisco, ao enviar estas cartas, se não é o da obtenção de informações? Para responder a esta pergunta, O Bengalão aconselha a bem conhecida estratégia do Alho Porro, inventada pela conhecida Agatha Christie. Interroguemo-nos, assim: cui bonus? Ou seja, quem tem a ganhar com isto?
Parece evidente que esta carta levará à ridicularização do fisco, à sua desacreditação. Pois que outra consequência pode ter uma manobra aparentemente tão inábil, tão estulta, tão brutal?
Portanto, cui bonus? A quem aproveita esta ridicularização e esta desacreditação? A resposta só pode ser uma: a quem, de forma sistemática e premeditada, foge ao fisco. A organizações criminosas, pois.
Segue-se a conclusão. O Bengalão suspeita que o fisco, sabe-se lá a que nível, tenha sido infiltrado por alguma tenebrosa organização criminosa com um plano maquiavélico: destruir, quem sabe se para sempre, a credibilidade da Fazenda, para melhor poderem continuar as suas práticas.
À atenção do Senhor Ministro das Finanças.

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