sexta-feira, 23 de maio de 2008

Francisco Lucas Pires

Fez ontem 10 anos que Lucas Pires deixou de estar entre nós. O Bengalão teve o privilégio de partilhar com ele momentos, por vezes por razões profissionais, por vezes porque Lucas Pires era um Homem a quem as actividades sociais ligadas ao exercício do poder fatigavam depressa. Fugia assim muitas vezes das lantejoulas que acompanham as obrigações de quem exerce cargos públicos de grande responsabilidade, e refugiava-se no anonimato de contactos menos aparatosos, mas concerteza mais verdadeiros, em que revelava a pessoa que estava por detrás do político. Lucas Pires era um homem de convicções, um democrata conservador com uma consciência social muito atenta, de que Portugal teria hoje uma necessidade gritante. O Bengalão sossega desde já os seus amigos que estarão a pensar Olha este, queres ver que virou a casaca? O Bengalão não se revê nas ideias políticas de Lucas Pires. Nunca se reviu. Mas, como ele democrata convicto, acha que todas as ideias, mesmo as suas, são perigosas se forem promovidas a pensamento único. Por isso pensa que, no Portugal de hoje, um homem como Lucas Pires faria muita falta. Por razões históricas que toda a gente conhece, não há, em Portugal, uma grande tradição de Direita democrática. E O Bengalão pensa que Portugal precisa de uma Direita que não seja nem um espectáculo de gosto discutível, nem uma mera agência de empregos. Lucas Pires podia ser, se não tivéssemos todos sofrido a perda enorme da sua morte, o dirigente dessa Direita. O Bengalão não votaria nele, é certo, mas dormiria descansado no dia em que ele ganhasse as eleições. Para além disso, O Bengalão recordará sempre o Homem cultíssimo, conversador extraordinário, com um facílimo contacto com os grandes do poder e com a pessoa encontrada ao acaso, na rua, num país estrangeiro em que quase ninguém sabia quem ele era. Recordará a extraordinária urbanidade de um Homem que sabia ouvir, a lucidez com que compreendia mesmo aquilo que acabava de aprender, a curiosidade extraordinária que o levava a dar atenção a tudo, mas mesmo tudo, o que se passava à sua volta. O Bengalão lembrar-se-á, também e sempre, da nostalgia e do amor com que, quando estava fora de Portugal, falava da sua família.
Tê-lo conhecido foi um privilégio. E O Bengalão, que é um priveligiado, quis partilhar contigo, Leitor, este momento de saudade. Que os dois Partidos a quem tanto deu não tivessem, sequer, vertido uma lágrima de circunstância, apenas aumenta a saudade.

1 comentário:

com senso disse...

Pertencendo eu a uma família política completamente diferente da de Lucas Pires, confesso que sempre senti uma enorme admiração pela forma límpida e sempre brilhante como apresentava as suas ideias e propostas políticas.
Muito feliz esta sua homenagem!